“Real men”

Foi por causa de Midnight in Paris que decidi tentar Hemingham de novo. Há alguns anos, li O Velho e o Mar, mas, ai, não gostei. Achei chato. Talvez tenha que ler de novo. Nessa semana, terminei Paris é uma Festa (A Moveable Feast – The Restored Edition, mais aqui). Sim, ali, encontrei esse Hemingway do filme (or kind of).

O paraíso alheio

“(…) Eram livros misteriosos, cujos desfiladeiros não apenas eram diferentes, mas muitas vezes contrários a tudo que eu havia conhecido até então. Não era necessário demonstrar os fatos: bastava o autor haver escrito para que fossem verdade, sem outra prova além do poder de seu talento e da autoridade de sua voz. Eram de novo Sherazade, mas não em seu mundo milenar onde tudo era possível, e sim em outro mundo irreparável no qual tudo já tinha se perdido. 

Ao terminar a leitura de A Metamorfose ficaram em mim os anseios irresistíveis de viver naquele paraíso alheio. O novo dia me surpreendeu na máquina viajante que o mesmo Domingo Manuel Vega me emprestava, para tentar alguma coisa que fosse parecida ao pobre burocrata de Kafka convertido num besouro enorme. Nos dias seguintes não fui à universidade com medo de que o feitiço se rompesse (…)”  

Trecho de Viver para Contar, de Gabriel García Márquez, página 241

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Por acaso, iniciei a leitura do capítulo 5 da autobiografia de Gabriel García Márquez, onde está o trecho acima, na sala de cinema, antes de começar a exibição do Meia-noite em Paris, do Woody Allen. Sim, há muitas cenas lindas de Paris. Não, não me pergunte o que esse filme significa dentro das obras de Woody Allen (gosto mais da safra europeia de seus filmes, desde Match Point). O ponto alto do filme para mim é a fantasia da volta no tempo, a sensação de não se encaixar com o contexto atual e o desejo de ter nascido em ou vivido outra época – no caso de Gil, o protagonista vivido por Owen Wilson, é a Paris dos anos 20 in the rain. Essa melhor parte o trailer abaixo não mostra:

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Nos comentários da psicanalista Diana Corso, após a seção, a nostalgia de um tempo ou de algo que não vivemos foi um dos principais temas. Gostamos da fantasia que temos desse tempo, e não do que realmente aconteceu. Ela exemplificou com aquele pai que se sente inseguro, acha que falha e pensa que os pais do passado sabiam educar, “porque, no meu tempo, não era assim”, dizem. Mas, nas famílias daquele tempo, talvez o pai não demonstrasse afeto, a mãe não pudesse abrir a boca para discordar do pai etc.

Outro ponto que o Ticiano comentou foi o filme Retratos de uma Obsessão (One Hour Photo), com Robin Williams, em que ele é obcecado por uma família aparentemente perfeita em fotos. Sem os extremos do personagem, é sentimento real em relação aos álbuns virtuais (quem posta no Facebook as fotos de momentos em que estava no fundo do poço?). A grama do vizinho é mais verde, mas não é por acaso.

Confesso que invejei o paraíso de Gil, com encontros com Heminghway, Picasso, Modigliani, Dalí e outros em Paris (aliás, até demais!), mas, como espectadora, ficaria frustada se ele ficasse preso àquele tempo. Foi um alívio que ele saiu e pode encontrar no presente (ou numa fantasia de futuro) os detalhes do passado que gosta. Ou é apenas a fantasia que eu gosto de imaginar como final.

O que eu estou lendo… vai pro tumblr!

Vou contar de novo aqui que, na época do Orkut, a comunidade na qual eu comentava com maior frequência era a O que você está lendo? Até usei esse título em um post para contar quais títulos de jornais e revistas que andavam caindo na minha mão em Birmingham. Mas agora descobri o tumblr What Lexi Reads, da travel writter Alexis Grant, e copiei a ideia descaradamente (Sorry, Alexis, I copied your idea of having a tumblr for my readings!). Fiz esse tumblr: What is Melissa reading?

Primeiro: amei esse layout.

Segundo: não espere ver apenas livros por ali. Já faz um tempo que meu tempo para leitura tem sido focado mais em revistas do que em livros. Aliás, até mais focado em boas leituras pela internet – graças aos interessantes tuiteiros que sigo – do que aos livros. Amo todos, mas socorro – haja tempo para ler todos os livros, revistas, jornais e links interessantes do mundo! Apesar de o tumblr não ser um espaço para muita conversação/comentários, dicas, críticas e sugestões são muito bem-vindas!

E não apenas isso: o feed do tumblr taí à direita, com a fotinho de uma das minhas prateleiras aqui no Brasil. Nem li todos que estão ali, mas sei que eles sempre estarão esperando por mim. 🙂

Chica Chica Boom Chic

Estou lendo Carmen, de Ruy Castro. Estou me encantando pela personagem, mas tive que recorrer ao YouTube: como eram mesmo as apresentações de Carmen Miranda?? Foi uma figura tão copiada, tão “caricaturizada” (sendo ela uma caricatura de si mesma), que havia me esquecido – ela era mesmo essa imagem que tenho ou a reprodução fez perder a aura?

Eu adorava o desenho do Zé Carioca que tinha a ver com ela. Carmen não é um mero suporte para seu cestinho de frutas no turbante – she’s a lady with a tutti frutti hat, of course, mas tem seus méritos pelo pioneirismo, pela diversão, pela moda. Leia sobre a história dela ainda no Rio, repare nos tecidos que ela usava e se divirta com as caras e bocas.

Podem ser clássicos, mas as letras das músicas são de doer. Respeito os compositores, imagino o que não fizeram para chegar até lá etc, mas o vocabulário é restrito uma dúzia de palavras: iaiá, ioiô, ganzá… Isso combinado com brincos grudados no turbante e cenas com bananas gigante e macacos em um bananal montado no estúdio. Ai! 

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Estou na metade do livro – Ruy Castro sempre é muito bom -, mas de tanto ler sobre Serenata Tropical e That Night in Rio, resolvi procurar fragmentos dos filmes. Abaixo, Chica Chica Boom Chic, em That Night in Rio:

A letra:

O meu ganzá faz “Chica Chica Boom Chic”
P’rá eu cantar “Chica Chica Boom Chic”
Uma canção o “Chica Chica Boom Chic”
meu coração faz “Chica Chica Boom Chic”

E vem a saudade da Bahia
Onde o samba tem, canjerê também numa batucada
Chic Chic Boom (4x)

É brasileiro o “Chica Chica Boom Chic”
Com um pandeiro fazendo chica boom chic
E para terminar o chica chica boom
Vocês devem cantar o “Chica Chica Boom”
Chica Chica Boom(4x)
Chic

You don’t make sense the “Chica Chica Boom Chic”
But it’s meant to chica chica boom chic
Achi, Achi, Achi Ca Boom
That’s all you’ve got to say
To chase the jinx away
Chica chica boom
Chica chica boom
Chica chica boom, Chic

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A música tem um balanço delicioso, mas que história é essa da “baiana”  cantar que tem saudades da Bahia – Carmen nasceu em Portugal, embora seja mais brasileira do que eu – naquele cenário fake de Rio e aparecer um cara (Don Ameche?) dizendo que isso vem da Amazônia, onde os nativos saúdam e gostam do chica chica boom? Aliás, a música nasceu como uma rumba, parece, mas um brasileiro cuidou disso, graças a Deus. E o contexto era a “Política da Boa Vizinhança”.

Apesar disso, o que me encanta em Carmen é aquela alegria genuína, e isso pode ser reparado nos vídeos. Ignorem o cenário fake and have fun with the Brazilian bombshell. O livro é mais do que recomendado. Estou em um nível de leitura que já tô achando “normal” acordar e incrementar o turbante com frutas, plumas ou até umas bolinhas de Natal. 😉

Poe

Mestre do suspense

Suspense...

 

Entre as datas de 2009, está o bicentenário de Edgar Allan Poe. O primeiro livro dele que li foi Os Assassinatos da Rua Morgue, na adolescência, um dos primeiros livros de suspense que li. E viciei. Passei a devorar contos de Poe. Ficava impressionada com a mente desse cara para criar histórias como a d’O Gato Preto ou d’O Barril de Amontilado. Li, já reli e dá vontade de encarar de novo. A narrativa é envolvente, e o final surpreende. Poe foi um dos primeiros a explorar o suspense como gênero literário. 

 

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Mais nesse post do Mundo Livro.

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Estampa do gato negro de Poe na camiseta da Apparel

Estampa do gato negro de Poe na camiseta da Apparel

No site do Edgar Allan Poe Museum, adorei os itens da loja – tem camisetas temáticas do bicentenário da Apparel (estampa do gato negro é a melhor)! E mais todas aquelas bugigangas de loja de museu: caneca, chaveiro etc.    

Mas os site também traz informações sobre a vida do autor, como essa: 

Poe died in this hospital October 7, 1849. The cause of his death is not known. The exhibit displays some of the various suggested causes.

1857 Beating
1874 Epilepsy
1921 Dipsomania
1926 Heart
1970 Toxic Disorder
1970 Hypoglycemia
1977 Diabetes
1984 Alcohol Dehydrogenase
1989 Porphyria
1992 Delirium Tremens
1996 Rabies
1997 Heart
1998 Murder (Beating)
1999 Epilepsy
1999 Carbon Monoxide Poisoning

Eça de Queirós

Vi esses tempos o filme O Crime do Padre Amaro (El Crimen del Padre Amaro, 2002), baseado no livro de Eça de Queirós e com Gael García Bernal. No filme, a história se passa no interior do México e tem cenas fortes no final. Não li o livro, mas fiquei curiosa em saber se aquelas discussões atuais que aparecem ali sobre a Igreja Católica haviam sido levantados por Eça, como celibato e aborto. 

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Monumento a Eça de Queiróz, em Lisboa

Monumento a Eça de Queiróz, em Lisboa

Quando visitei Portugal, em junho passado, tudo o que vi de Eça sob o céu de Lisboa foi no primeiro dia – essa estátua que não estava muito longe do hostel onde fiquei, na Baixa Chiado. Cheguei a levar uma matéria que o Edu Veras fez para o Cultura, na época em que a Globo exibiu a minissérie Os Maias, que propunha um roteiro para se descobrir a Lisboa de Eça.

O escritor português é detalhista quando descreve o personagem saindo de sua casa e indo para outro ponto da cidade – além dos pensamentos, o leitor consegue acompanhar o trajeto por Lisboa, as ruas, os cafés. 

“A casa que os Maias vieram habitar em Lisboa, no outono de 1875, era conhecida na vizinhança da rua de S. Francisco de Paula, e em todo o bairro das Janelas Verdes, pela casa do Ramalhate ou simplesmente o Ramalhete.

Li Os Maias – Episódios da Vida Romântica na época da minissérie (uma das melhores da Globo, gostaria de rever) e A Relíquia, que  teve seu personagem central transposto para a história de Maria Eduarda e Carlos Eduardo na TV. Teodorico Raposo era interpretado pelo Matheus Nachtergaele (ô, Titi…).

Com seis dias no país e com base na capital portuguesa, queria fazer algumas day trips, não deu para descobrir a Lisboa segundo Eça – mas Sintra foi especial para mim. Além de ser um ponto turístico imperdível, com aqueles castelos e palácios impressionantes – mais por peculiaridades do que por ostentação -, foi especial porque lembro que Eça citava muito a cidade em Os Maias e porque foi refúgio de Lord Byron. Palácio da Pena e Castelo dos Mouros não vão sair da memória.

Palácio da Pena

The craziest palace in the world: Palácio da Pena

Castelo dos Mouros, em Sintra

Castelo dos Mouros, em Sintra